Centurião: Promotor analisa se vai recorrer de sentença

O Ministério Público do Estado do Amazonas (MP-AM), por intermédio do Promotor de Justiça Edinaldo Medeiros, titular da 17ª Promotoria de Justiça, que atua junto a 2ª Vara do Tribunal do Júri Popular (TJP), tem cinco dias para decidir se vai recorrer da abolvição dos policiais militares Carlos Farias da Silva, Cristian Zerbine Barros Ferreira e Luiz Neudison Azevedo da Silva, julgados, ontem, pela morte do ex-policial civil Santos Clidevar de Lima, que ocorreu em março de 2004.

O julgamento, parte da Operação Centurião, terminou por volta de 22h30 de ontem. O traficante Ezequiel Araújo Melo, o “Queia”, enteado da vítima, que teria pago R$ 12 mil para o grupo de policiais matar Santos Clidevar, foi condenado a 23 anos por homicídio triplamente qualificado.

Conforme o Promotor de Justiça Edinaldo Medeiros, o “Júri entendeu que os policiais participaram do crime coagidos pelo Coronel da Polícia Militar, Felipe Arce Rio Branco”, também réu no mesmo processo, mas que não foi julgado, ontem, por ter entrado com um recurso junto à Justiça do Amazonas.

“A absolvição foi em decorrência de os jurados terem considerado que os policiais foram obrigados pelo coronel Arce a participar do crime. Eles confessaram a participação e declaram que atuaram por ordem do coronel. Os jurados entenderam que eles agiram por conta do medo que o coronel exercia sobre eles”, afirmou o Promotor, que relembrou que o caso esteve na Justiça Federal, por conta da suspeita do envolvimento do grupo com o tráfico internacional de drogas, e que os três policiais chegaram a ser impronunciados pela Justiça Federal.

O coronel Arce, para o MP-AM, dentro da Operação Centurião, é considerado o chefe do grupo de policiais que matou o ex-policial por ele ter ameaçado entregar às autoridades competentes, todo o esquema de extorsão a traficantes e envolvimento com o tráfico de drogas, que o coronel mantinha, junto de seus comandados, quando ele estava à frente do Departamento de Inteligência da PM.

Crime e jugamento

O assassinato do ex-policial civil Santos Clidevar ocorreu no dia 2 de março de 2004, no Ramal do Toco, na Rodovia BR-174. Clidervar tinha sido reconhecido pela Polícia Federal como traficante internacional de drogas e foi assassinado por ter ameaçado denunciar, às autoridades competentes, a existência de um grupo especializado no tráfico internacional de drogas e em crimes de extermínio que seria comandado pelo coronel Arce.

O julgamento ocorreu no 2º Tribunal do Júri Popular (TJP), no Fórum Henoch Reis, no bairro Aleixo, Zona Centro-Sul de Manaus, e atuaram, pelo MP-AM, o Promotor de Justiça Edinaldo Medeiros; como juiz, o titular da 2ª Vara do TJP, Anésio Pinheiro, e na defesa dos réus, quatro advogados, entre eles o Defensor Público Antônio Ederval de Lima.

De acordo com a denúncia do MP-AM, Santos Clidevar, foi sequestrado quando saía de casa, no bairro Coroado, Zona Leste de Manaus, para o trabalho. Ele foi algemado, colocado em um veículo da polícia, não caracterizado, e levado para o Ramal do Toco, no quilômetro 28 da Rodovia BR-174, onde foi morto a tiros pelo PM Ivan Cheley Castro e Costa de Moraes, que também, por meio de recurso ao TJAM, não foi a Júri Popular, ontem.

O crime foi encomendado por Queia, que afirmou, em depoimento à Polícia Federal ter pago R$12 mil pelo assassinato de Santos Clidevar, tudo para garantir que o esquema de tráfico e de extermínios, não fosse denunciado pelo ex-policial civil, mas ontem, disse que o dinheiro foi pago aos policiais dentro de um esquema de extorsão que eles mantinham, contra traficantes do bairro Coroado, Zona Leste.

“Nós temos uma gravação, que consta dos autos, em que Queia aparece tramando com o policial apelidado de Godô, a morte do padrasto”, afirma o Promotor. O PM Godô, na verdade, é Rodolfo Lemos Soprano, o “Godô”, que faleceu no decorrer das investigações. Ele teve morte natural por conta de complicações causadas pelo diabetes.

Policiais acusaram coronel e colega

Queia foi o primeiro a depor. Depois dele, prestou depoimento o PM Luiz Neudson Azevedo da Silva, que foi seguido pelos colegas de farda Carlos Farias da Silva e Cristian Zerbine Barros Ferreira. Cada depoimento demorou em torno de uma hora. Os três policiais, ao serem ouvidos, imputaram a culpa do assassinato de Santos Clidevar ao coronel Arce e ao PM Cheley, que, conforme o MP-AM, foi o autor dos disparos.

Os debates, entre e MP-AM e a defesa dos réus, que era formada por quatro advogados e um defensor público, levaram o julgamento até 22h30 de ontem, quando foi lida a sentença.